P29BR 29ER TEST / Trek Superfly Elite 2012

Aprimorando o que já era ótimo.

Primeiro modelo de linha 2012 a aportar no P29BR, a Superfly Elite da Trek chega revigorada. O grafismo sóbrio de antes, deu lugar um novo, com cores mais impactantes e de maior apelo visual. A bike conta agora com um pacote de peças ainda mais equilibrado e otimizado para suprir integralmente as necessidades de uma 29er de competição.
Entre os componentes presentes nesta nova Superfly Elite, destaques não faltam, inclusive muitos deles desenvolvidos pela própria fábrica sob a tutela da "marca-satélite" Bontrager. Começando pelas belas rodas Race Lite TLR Disc 29 montadas com cubos de tecnologia FCC, que projetados com de flanges mais altas e largas, corpo mais robusto e ponteiras superdimensionadas, conseguiram aliar características marcantes de rigidez à leveza que já é tradicional nas rodas da marca. Investindo pesado em sua linha de componentes para 2012, a Bontrager recentemente contratou Frank Stacy, talvez o maior especialista em design de pneus e profissional de grande reputação nos meios offroad. Um dos frutos desse investimento pode ser notado nos recém lançados pneus Bontrager 29-1 Team Issue, uma evolução dos rápidos XR-1 (http://www.29er.com.br/2009/06/p29br-test-pneus-bontrager-xr1-team.html), que ganharam alguns milímetros na largura e na altura dos cravos em relação ao antecessor, contudo não perderam a alta capacidade de rolagem, sem contar que estão muito melhores e mais seguros nas curvas. O exclusivo guidão de carbono modelo Race X Lite Carbon Big Sweep, manoplas do tipo bolt-on, mesa e canote Race X Lite e o selim Evoke, são outros dos itens proprietários a compor o pacote de respeito da Superfly Elite. Completando o conjunto, um grupo Shimano XT completo, incluindo seus novos e super eficientes freios M785 montado com discos de 160mm.

No quesito geometria, nada mudou, o quadro é idêntico ao do exemplar 2011 testado pelo P29BR em meados deste ano. Produzido em carbono OCLV, o quadro dispensa os inserts de alumínio na concha do movimento central e no head tube conificado batizado de E2 pela Trek,. Tanto os rolamentos do robusto central press-fit BB95, quanto os da caixa de direção, são montados diretamente na estrutura de carbono do quadro, reforçada logicamente nesses pontos. Na parte inferior do down tube o Trek Carbon Armor funciona como um autêntico escudo, evitando que uma parte crítica do quadro seja danificada por pedradas, por exemplo. Junto à concha do movimento central mais um detalhe construtivo que não pode passar despercebido, posicionada no quadro exatamente ao lado da coroa menor do pedivela, uma estrutura metálica circular protege o carbono e evita qualquer queda acidental de corrente.

A bordo da leve Superfly Elite 2012, o exemplar de testes do P29BR tamanho 17.5 pesou exatos 10.4Kg (sem os pedais), minha a primeira e mais evidente impressão diz respeito à elevada rigidez traseira do quadro, qualidade que demonstra claramente as intenções competitivas do modelo. Nos trechos planos e, principalmente, em subidas, fica a sensação de que a transferência de potência dos pedais às rodas ocorre praticamente sem perdas. Aos olhos do privilegiado piloto da Superfly, trata-se de um comportamento que torna mais fácil a tarefa de manter a bike em movimento com o menor gasto energético possível. O guidão flat de carbono Bontrager Race X Lite Carbon Big Sweep com sua pronunciada curvatura de 12 graus e largura de 680mm, proporciona uma pegada que pode parecer estranha a princípio. Pedalar com esse guidão de perfil único, pede alguma adaptação por parte do biker, entretanto depois de algumas dezenas de quilômetros rodados fica evidente que oferece uma boa dose de conforto e a alavanca suficiente para garantir um desempenho ótimo do conjunto, principalmente nas subidas longas. Na Superfly Elite, os pneus Bontrager 29-1 em sua versão de largura 2.20 polegadas, raramente perdem tração, mesmo quando se pedala em pé.

O pedivela Shimano XT 38/26, combinado com um cassette 11-36, permite o uso eficiente de todas as 20 bem escalonadas marchas da transmissão da Superfly 2012 e apresenta ainda uma relação muito mais adaptada à demanda das 29ers do que antes. Como o peso da bike é baixo, mesmo nas subidas mais fortes a coroa pequena se mostrou suficiente, enquanto que a coroa grande proporcionou condições para o piloto manter alto o giro dos pedais sem que com isso  faltassem marchas mais pesadas em se considerando um uso competitivo do equipamento. Finalizando as mudanças em relação ao grupo SRAM do modelo 2011, agora o câmbio dianteiro é do tipo direct mount.

Nas descidas, como se espera de uma boa 29er, principalmente em função do seu wheelbase (distância entre eixos) mais longo, são 1.116mm, a Superfly brilha em termos de velocidade e estabilidade, contudo é de fato nos singletracks onde a magia da bike desponta com toda sua força, muito em decorrência da famosa Geometria G2, desenvolvida pelo próprio Mestre Gary para as bikes aro 26 da Fisher e posteriormente traduzida para o "29ernês".

Explicando da maneira mais simplista possível, Gary Fisher chegou à conclusão aumentando o offset nos garfos das suas bicicletas, poderia atingir um nível de performance superior em trechos técnicos e singletracks, sem necessariamente ter que encurtar a distância entre eixos e, por consequência, sacrificar o desempenho em  descidas. Nascia assim um novo conceito em geometria para mountain bikes, batizado de G2. Quem costuma acompanhar o P29BR com frequência já sabe que uma das premissas das modernas 29ers são os garfos com offset corrigido para 45mm, contrariando o padrão previamente adotado como regra para o aro 26". Pois bem, nas 29ers da Trek essa premissa foi levada ao extremo. Por conta da Geometria G2, todos os modelos de bicicletas da Gary Fisher Collection vem de fábrica equipados com garfos dotados de um exclusivo offset de 51mm.

Não custa relembrar que a palavra "offset", sempre presente quando o assunto gira em torno do aro 29", é uma variável que exerce influência fundamental sob a medida do "trail", que por sua vez está diretamente ligado ao comportamento e personalidade da bike. O chamado "offset" ou "rake" nos garfos é traduzido pela distância perpendicular medida entre o eixo da caixa de direção e o eixo da roda dianteira. Por sua vez, o "trail" é a horizontal medida entre a projeção do eixo da caixa de direção sobre o solo e o eixo da roda dianteira.

A impressionante evolução experimentada pelas 29ers nos últimos anos evidenciou o fato de que não existe um conceito uniformizado que garanta desempenho e, consequentemente, sucesso no Mundo das Rodas Grandes, ao contrário, cada uma das principais fábricas que acreditaram de verdade no potencial do aro 29 e hoje se consolidaram como protagonistas nesse mercado promissor, ousou e criou suas próprias soluções, muitas delas relacionadas à manipulação do ângulo do tubo de direção, entretanto o visionário Gary Fisher foi além.

Depois de testar duas versões da Superfly Elite, posso afirmar com tranquilidade que não se trata de mais uma jogada de marketing ou de palavras, a Geometria G2 é efetiva de verdade. No caso desta Trek em particular, sua agilidade e manobrabilidade ficaram ainda mais evidenciadas pelo fato da bike estar “vestida” com uma suspensão de alto nível e eixo passante 15QR, uma Float 29 FIT RLC que vem de fábrica configurada com bem vindos 100mm de curso. Na grande maioria do tempo pedalei com a Fox travada, utilizando o controle de sensibilidade do travamento (Threshold) para tornar a suspensão ativa nas descidas e firme nas subidas sem ter obrigatoriamente que desativar a trava a todo momento.

Os blog-leitores mais céticos frequentemente me perguntam se um garfo com eixo de 15mm é realmente um pré-requisito que agrega desempenho a uma 29er. Respondo enfaticamente que sim, sem titubear. Tenha em mente que é nos trechos mais técnicos, rápidos e difíceis de uma prova onde vão aparecer e brilhar as qualidades do eixo passante, que associado ao head tube conificado, neutraliza qualquer flexão dianteira aparente mesmo com a roda de maior diâmetro, tornando muito mais fácil escolher uma linha e seguir por ela, bem como transpor obstáculos e as irregularidades do terreno. Nessas condições, é claríssima a vantagem alcançada pelo piloto que optar pelo 15QR em detrimento ao eixo standard de 9mm.

Quando falo de upgrades nos testes do P29BR, posso parecer repetitivo, mas a conversão tubeless é sempre o item número 1 em minhas listas de melhoramentos. No caso desta Superfly Elite, a tarefa é facilitada, pois as rodas Bontrager Race Lite são compatíveis com o sistema tubeless de fábrica, bastando instalar uma fita plástica, as válvulas e usar selante para realizar uma conversão de maneira tranquila, sem qualquer dificuldade. A curiosidade é que além de economizar algumas gramas e melhorar a já excelente rolagem dos ótimos pneus, depois de convertidos os Bontrager 29-1 ganham até 2mm na largura da carcaça quando inflados a 30psi. Ainda que o diâmetro do canote, 27.2mm, conspire a favor do conforto do ciclista, um canote de carbono faria todo sentido até mesmo em relação a peso. De resto, todo o pacote é praticamente perfeito. Chamo atenção apenas para os parafusos das manoplas que se mostraram relativamente frágeis, devem ser apertados com cuidado e uma chave allen de qualidade.

Com todo o repertório acumulado por Mister Fisher e uma política inteligente, a Trek construiu uma linha de hardtails aro 29 bastante equilibrada. Desde o modelo TOP, a Superfly Pro, até a acessível Mamba, todas as bikes da Gary Fisher Collection compartilham praticamente a mesma geometria, o que significa que tanto um entusiasta, quanto um profissional, podem ter acesso a bikes de características muito similares, independentemente do recheio da sua carteira. Seguindo uma tendência de mercado, a linha cresceu em 2012. Agora a Superfly é oferecida também com quadro de alumínio, além das já tradicionais versões em carbono proprietário OCLV. A Superfly Elite 2012 custa na loja 18.192 Reais, já o modelo de entrada na linha de 29ers da Trek pode ser levado para casa por interessantes 2.670 Reais.

Keep 29eriding!