Cota mínima: 233 metros
Cota máxima: 1.480 metros
Já há muito tempo trazia comigo a intenção de cruzar o chamado Caminho Francês, ramo mais famoso e emblemático do mítico Caminho de Santiago, pedalando uma 29er. A idéia era unir peregrinação e superação física visando vencer os quase 800 quilômetros que separam a pequena cidade de Saint-Jean Pied de Port , localizada na região dos Pirineus franceses, de Santiago de Compostela na Galicia espanhola.
A descoberta do sepulcro do apóstolo Santiago, em princípios do século IX, gerou de imediato uma imensa corrente de peregrinação em direção ao ponto do território espanhol onde hoje está situada a cidade de Santiago de Compostela. O Caminho de Santiago alimentou durante os seus doze séculos uma corrente de extraordinária vitalidade espiritual, cultural e social. Devido à sua existência, cresceu na Europa uma grande rede assistencial. Foram construídos dezenas de mosteiros e catedrais, além de inúmeras cidades e núcleos urbanos que cresceram ao redor do Caminho, também conhecido como Rota Jacobéia.
Hoje é impressionante a estrutura oferecida para aqueles que desejam atravessar a Espanha rumo a Santiago de Compostela. Existem albergues criados exclusivamente para hospedar peregrinos em praticamente todas as inúmeras cidades por onde passa a Rota, que por sua vez é extremamente bem sinalizada com flechas amarelas pintadas em rochas, casas, muros, postes e onde quer que possa ajudar o viajante a se guiar através do Caminho. Os sinais de orientação são mantidos e muitas vezes repintados pelos próprios peregrinos.
Minha aventura começou mais precisamente na cidade de San Michel, vizinha de Saint-Jean Pied de Port , onde me hospedei no dia 26 de julho último para na manhã seguinte iniciar de fato minha pedalada de nove dias até Santiago de Compostela. A viagem de Bordeaux até San Michel já havia sido cansativa, contudo, para completar, a montagem da bike me consumiu um tempo considerável antes de poder dormir.
Por falar em bike, eu e meu parceiro de empreitada iríamos pedalar através do Caminho de Santiago usando o mesmo modelo de 29er, a Scott Scale 29 Pro, uma “velha” conhecida do público do P29BR e particularmente uma das minhas hardtails prediletas. No setup original realizei algumas alterações visando adequar o desempenho da Scale 29 às necessidades de uma viagem tão longa como esta. No cockpit, preferi montar a mesa e o confortável guidão riser de carbono da Trigon (http://www.29er.com.br/2010/07/p29br-29er-short-test-guidao-riser.html), já estou bastante acostumado com ambos e ainda salvei algumas gramas no peso total do conjunto. As rodas escolhidas para equipar a Scale 29 Pro foram as VZAN Extreme Disc 29 tunadas (http://www.29er.com.br/2011/07/p29br-29er-tuning-rodas-vzan-extreme.html), que apresentam uma relação rigidez X peso bastante favorável. Como já mencionei em outros posts, os pneus Schwalbe Rocket Ron são hoje, em minha opinião, os melhores para o aro 29 pensando num uso mais all-mountain. Como de costume, tive o cuidado de convertê-los para tubeless, ganhando em termos de conforto e principalmente confiabilidade.
Scott Scale 29 Pro pronta para a ação
Os alforges foram um caso à parte, diz a regra das cicloviagens que devemos levar somente o essencial em termos de bagagem, qualquer coisa além disso é peso extra...peso extra em uma viagem de 800Km vai sem dúvida nenhuma se transformar em uma dificuldade extra, por tudo isso, procurei levar a regra ao pé-da-letra. Usei apenas um alforge de guidão e outro traseiro bem pequeno, os dois da Topeak.
Voltando à pedalada propriamente dita, nesse primeiro dia eu e meu companheiro de viagem, o franco-brasileiro Laurent Tarnaud, não conseguimos acordar tão cedo quanto desejávamos. Partimos do hotel em San Michel pouco após as 9 horas da manhã de 27 de julho debaixo de uma chuva fina e intermitente, um ingrediente a mais para dificultar a já temida subida dos Pirineus franceses.
Vieira, símbolo do Caminho no calçamento em Saint-Jean Pied de Port
Momento da partida en Saint-Jean Pied de Port
Tudo pronto, finalmente poderíamos começar de verdade a percorrer o Caminho de Santiago. Fizemos uma oração antes da saída e ainda debaixo de chuva fina encaramos a primeira subida que em breve nos levaria ao alto dos Pirineus. Partimos de uma altitude de 233m com destino ao alto da montanha a 1.480m, seria mais ou menos como ir de Santos à Campos do Jordão, imaginando que as duas cidades estivessem separadas por apenas 20Km de distância, ou seja, iríamos encarar ladeiras com até 22.5% de inclinação, grande parte em asfalto.
Subindo os Pirineus
A subida era incrivelmente íngreme, mas a sensação de estar escalando uma montanha “fora de categoria” na França somente três dias após o término do Tour, me fez sentir o próprio Adilberto Contador. Pedalava com uma vontade incrível, curtindo cada rotação do pedivela na minha Scale 29. Chegando a 800 metros de altitude uma neblina espessa já tomava conta da paisagem, fazia frio e o vento ficava cada vez mais forte.
Paisagem da emocionante subida aos Pirineus
A altitude ia crescendo e cada vez mais tinha certeza que a minha 29er era definitivamente o melhor veículo para vencê-la. Apesar dos pneus 2.25, depois que encontrei um ritmo interessante, guardando-se as devidas proporções, era como se estivesse numa bike de Speed, mas com o dobro do conforto. Cheguei por vezes até a esquecer que estava carregando quase 10Kg de bagagem distribuídos entre os dois alforges.
Neblina total no início da trilha a mais de 1.200 metros de altitude
Estado crítico da trilha no alto da montanha
Riacho após Roncesvalles
Depois de 74Km, já no final da tarde, chegamos à grande cidade de Pamplona, imponente e mundialmente famosa por suas touradas e corridas de touros. Carimbamos as credenciais no posto de informações turísticas da cidade, paramos numa panadería (padaria) para comer um sanduba e, seguindo o conselho de um dos simpáticos “tios” de Saint-Jean Pied de Port, rumamos para a próxima cidade da Rota, um pequeno povoado a apenas 4Km de Pamplona, conhecido como Cizur Menor. Lá nos esperava um confortável albergue, onde, é claro, encontramos um outro brasileiro que fazia a pé o Caminho.
Albergue de peregrinos em Cizur Menor
Continue acompanhando no P29BR os relatos da cicloviagem ao Caminho de Santiago.
Keep 29eriding!
Mais fotos em meu Facebook.
Fantástico Adil, muito bom! Já estou ansioso para saber do resto do relato. Ainda mais porque esse caminho é um sonho pessoal.
ResponderExcluirDiga-me uma coisa: como se comportaram os freios à disco diante de situações tão desfavoráveis? Usou que tipo de pastilha?
Um abraço!
Muito bom relato! Boa viagem na sequência
ResponderExcluir=) Emocionante! estou ansioso pelo restante da aventura!
ResponderExcluirTambém estou ansioso para a próxima parte da viagem/peregrinação. Gostei dos cachorrinhos.
ResponderExcluirO relatorio esta 100% fiel a realidade, parabens Adil pelo conto e de novo muito obrigado pela companhia!!!
ResponderExcluirEu saiu com Pastilhas 50% Gastas, no terceiro dia fiquei sem, tinha levado um jogo mas consegui comprar um outro par!!! Tem que sair com pastilhas zeros, eu tinha quasi 20 kilos no alforges, entao sofreu muito!!!
Laurent
Você está usando pneus Small Blocks????
ResponderExcluirOi Carlos,
ResponderExcluirO Caminho de Santiago é praticamente obrigatório para aqueles que amam bikes e cicloturismo.
Eu usei as pastilhas originais do Avid Elixir, mas cheguei ao último dia com as pastilhas dianteiras no limite. Meu companheiro de viagem com o freio Avid XX teve que trocá-las no quinto dia, por isso é fundamental levar pastilhas extras. Dependendo do seu estilo de pilotagem, peso da bike, etc, vai demorar mais um menos para gastar.
Abs,
Adil
Olá pessoal,
ResponderExcluirObrigado por acompanharem os relatos. Neste final de semana tem mais.
Abs,
Adil
Valeu Laurent,
ResponderExcluirDe fato você foi um herói em carregar tanto peso num trajeto tão duro como esse.
Abs,
Adil
Olá Dubiker,
ResponderExcluirEstou usando os pneus Schwalbe Rocket Ron 29x2.25, meus prediletos para uso all mountain no aro 29.
Abs,
Adil
Relato muito bom!
ResponderExcluirTenho este caminho com um objetivo de vida no pedal. Ainda o faço com minha esposa, mas por enquanto ainda estamos no mundo 26".
Estou descobrindo esse mundo da 29er e quem sabe faço um teste em breve.
Abraços e bom pedal.
Olá Rafael,
ExcluirEm caso de dúvidas, me escreva. A viagem vale muito a pena.
Abs,
Adil
¡Ahhhh, yo quiero hacerlo!! Pero como comentamos el sábado, más tranquilo, sin prisa para poder detenerme a tomar fotos o quedarme más tiempo donde me guste. Gracias, Adil!
ResponderExcluirHola Carina,
ExcluirEs el viaje perfecto para los amantes de la bici!
Me pueden preguntar todo lo que quieran.
Saludos,
Adil